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Seca nos EUA, inflação no Brasil

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Quebra na safra norte-americana ganha proporção gigantesca e amplia escassez de soja e do milho. Alta de 15% no cereal encarece carne brasileira de frango em 9%

 

 

 

 

 

A seca que assola a principal região agrícola do mundo – o Meio-Oeste dos Estados Unidos – se agravou e ameaça inflacionar os alimentos devido à escassez global de soja e milho, mostrou relatório divulgado na sexta-feira (10) pelo departamento de agricultura norte-americano, o Usda. Escassos e com cotações recordes, os grãos elevam custos e afetam imediatamente cadeias como a do frango. A carne mais consumida do Brasil sobe 9% a cada 15 pontos porcentuais de elevação no preço internacional do cereal, que aumentou 20% desde o início da seca, há três meses.

Conforme o Usda, a falta de chuva e o calor excessivo reduziram a colheita norte-americana de soja e milho em 115,8 milhões de toneladas, volume equivalente a 83% do que o Brasil produziu no último ano. As cotações em Chicago, adotadas como referência em todo o mundo, não param de bater recordes. No Paraná, mesmo após uma safra de inverno acima da média, a saca de 60 quilos de milho chegou a R$ 27 e a da soja a R$ 65, valores jamais registrados. Esses produtos interferem nos preços de centenas de alimentos.

Esses preços abalam principalmente as cadeias avícola e suína. “A consequência para o Brasil é uma só: inflação de alimentos, principalmente das carnes de porco e frango, além de aumento no preço do leite”, sentencia Eugênio Stefanelo, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná.

As altas recentes ainda não foram totalmente repassadas ao consumidor, conforme o economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PR), Cid Cordeiro. Ele acredita que haverá uma valorização do grupo de carnes no segundo semestre. Os hortifrutigranjeitos de verão vão rebater parte dessa alta, aponta. Ele lembra, no entanto, que a carne é o item que tem maior peso nas despesas com alimentos.

O encarecimento dos produtos deve limitar tanto a demanda interna quanto a externa, impactando o mercado, avalia o analista da Informa Economics FNP, Aedson Pereira. “Se o varejo não paga o preço, o atacado é obrigado a reduzir a produção”, avalia, citando que a União Europeia já reduziu seu consumo por causa da crise financeira.

O clima não tem sido favorável à produção global de alimentos desde novembro do ano passado, quando o Sul do Brasil, o Paraguai e a Argentina enfrentaram seca e registraram quebras na safra de verão. Nos últimos meses, além dos Estados Unidos, países exportadores de trigo também registram falta de chuva. Na Argentina, principal fornecedor do cereal para o Brasil, a quebra deve ser de 3,5 milhões de toneladas, com colheita de 11,5 milhões de toneladas. China, Rússia e Austrália também devem ter produção de trigo menor.

Nos Estados Unidos, as chances de recuperação para o milho são consideradas mínimas. A esperança entre produtores como Scott Kaech, de Kentucky, é que a soja ainda reaja com as próximas chuvas. A seca é considera o maior desastre natural da história dos Estados Unidos.

Texto e Fotos: http://www.agrolink.com.br